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A experiência do VER-SUS na cidade de São Paulo

por Assessoria de Comunicação Rede Unida última modificação 23/08/2016 18:44
Artigo do psicólogo e ativista Gabriel Medina, facilitador da edição de inverno na capital paulista, compartilha olhares, saberes e conhecimentos adquiridos durante o período de vivência na realidade dos serviços, equipamentos e programas do Sistema Único de Saúde (SUS), atentando para o direito à cidade e a defesa do SUS.

 

O direito a cidade e defesa do SUS:

A experiência do VER-SUS na cidade de São Paulo

Por Gabriel Medina,

psicólogo e ativista, foi facilitador do VER-SUS 2016 na cidade de São Paulo

 

A cidade de São Paulo recebeu do dia 31 de julho a 08 de agosto o VER-SUS inverno, um projeto de vivência e estágio no Sistema Único de Saúde (SUS), que proporciona a estudantes, profissionais e representantes de movimentos sociais compartilhar, por alguns dias, olhares, saberes e conhecimentos a partir do contato direto com a realidade dos serviços, equipamentos e programas de saúde públicos.

Esta edição do VER-SUS foi bastante especial, seja pelo momento político em que vive o país com forte risco de interrupção por parte do Presidente interino do apoio que o governo federal dá ao próprio VER-SUS, seja pela proposta que recupera a origem de projetos de vivências em parceria com movimentos sociais, como era o EIV (estágio de vivência nos assentamentos do MST), fonte inspiradora desse projeto de extensão universitária realizado pelo movimento estudantil.

Nesta edição, a vivência não apenas visitou distintos equipamentos e serviços da saúde, como também dedicou parte da programação para conhecer a realidade de dois tipos de ocupação do movimento de moradia do município: uma em um prédio no centro de São Paulo da Frente de Lutas por Moradia e outra em um terreno localizado no extremo sul da cidade do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), na busca de aproximar a saúde dos desafios encontrados nas cidades brasileiras.

Em que pese às muitas dificuldades experimentadas pelo SUS em garantir atenção integral à saúde com qualidade para todos, ficou evidente que a política urbana no Brasil apresenta dificuldades mais agudas na consolidação de uma política de Estado, preocupada com cidadãos e cidadãs e não com os interesses do mercado. Mesmo com o crescimento dos movimentos de moradia e urbano, estes não foram suficientemente fortes para resistir ao avanço da especulação imobiliária e da cidade vista como um negócio.

As grandes cidades no Brasil, sobretudo nos últimos 40 anos, produziram exclusão e segregação dos pobres, “higienizaram” áreas da cidade por meio do deslocamento das pessoas para a periferia, vêm submetendo importante parcela de sua população a uma vida com péssimas condições nas periferias e favelas, onde milhões de pessoas vivem em barracos minúsculos, sem ventilação, falta de luz solar, muitas vezes em áreas de risco e quase sempre em situação ilegal.  As dificuldades são muitas:  falta de água e esgoto tratado, acesso à creche, escola, espaços de lazer, transporte de qualidade e acesso à saúde pública.

Por todos esses elementos, não podemos falar de saúde de qualidade, sem pensar nas cidades, nas condições de vida da população e compreender que a luta do SUS caminha junto à luta contra a desigualdade social, a pobreza e em defesa de um novo modelo de cidade, preocupada com o seu povo e não com o lucro de especuladores e rentistas do setor imobiliário.

Entretanto, essa experiência também trouxe boas surpresas. Foi possível encontrar um SUS em reconstrução na cidade, uma gestão do Prefeito Fernando Haddad preocupado em reconectar o SUS com seus princípios fundantes, oriundos da luta pela Reforma Sanitária com forte presença na cidade de São Paulo no inicio dos anos 80. Como também, uma nova proposta de planejamento urbano, diversificada, moderna, orientada por um Plano Diretor que busca projetar uma cidade inclusiva e sustentável para os próximos 50 anos.

Obviamente, ainda existem problemas na atenção à saúde, uma rede sobrecarregada, demora em realizar determinados exames e cirurgias, falta de medicamentos, entre outros, mas nada comparado ao “caos” gerencial apresentado pela grande mídia, mas com o objetivo de atacar o SUS para que o sistema privado avance sobre o público.

Vale destacar os esforços empreendidos nesta gestão para que o SUS busque reafirmar princípios, tais como a universalidade, expandindo serviços e buscando assegurar o direito à saúde a todos, combinada à equidade, na medida em que se esforça para atender a públicos historicamente vulneráveis e com dificuldades de acesso ao sistema. Conhecer novos programas no centro de São Paulo, como o “Transcidadania”, o “Centro de Acolhida do Imigrante” e o “De Braços Abertos” é um respiro para todos que acreditam na capacidade do serviço público se reinventar e incluir socialmente usuários que sofrem com preconceito, violação de direitos e invisibilidade.

A boa parceria do SUS com as Secretarias de Direitos Humanos, Trabalho, Assistência, na busca da construção de uma rede de proteção e defesa da vida é animadora para construir uma visão integral do ser humano e convicção que apenas o trabalho em rede poderá trazer respostas para problemas graves e complexos.

Foi possível perceber as diferentes orientações de governos. Antes, na região da luz, usuários de crack eram “tratados” com bombas e repressão pela PM, em uma operação batizada de “sufoco”, cujos resultados foram uma tragédia. Hoje, o programa de braços abertos assegura trabalho, um local de moradia, tratamento no SUS e dignidade, para que usuários consigam construir outra possibilidade no presente e futuro.

O VER-SUS em São Paulo se mostrou um forte instrumento para sensibilizar estudantes, profissionais e ativistas para refletirem e atuarem no SUS, processo que colabora para que a Universidade pense em sua atuação para fora dos muros, formando profissionais críticos, capazes de responder às reais demandas da população.

Neste momento político que o Brasil vive que aponta para o desmonte das conquistas sociais da Constituição Federal de 1988, mais do que nunca é preciso defender os direitos sociais, humanos e a democracia. Por isso, a articulação da defesa do SUS com a luta por uma cidade inclusiva e humana é essencial para construir avanços civilizatórios para um Brasil de mais justiça e igualdade.

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