O “nós” na gestão
A visão naturalizada que associa a gestão da saúde a uma prática burocratizada e centralizada foi descontruída durante o primeiro dia do Encontro Regional Norte, organizado pela Rede Unida, entre os dias 24, 25 e 26/11, em Belém do Pará. Durante a mesa de abertura do evento, as professoras Rossana Baduy, da Universidade Estadual de Londrina (UEL), e Margareth Capra, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); acompanhadas do professor da Federal do Pará, Paulo de Tarso, e do coordenador nacional da Rede Unida, Alcindo Ferla, propuseram a reflexão sobre a gestão da saúde como um exercício de criação coletiva do Sistema Único de Saúde.
Em sua fala, a professora Rossana defendeu a problematização do cotidiano de trabalho, na perspectiva da gestão, para propor o diálogo entre gestores e profissionais de saúde, e também a criação de espaços de escuta, a professora ponderou sobre a “capacidade de produção em ato” dos indivíduos que atuam na rede de assistência. E explicou que a regulação, as propostas de fluxos e os protocolos no processo de cuidado podem ser boas ferramentas de educação permanente em saúde.
Para Rossana, o apoio, o matriciamento, conjugados à escuta dos profissionais e o diálogo entre diferentes pontos da rede permitem criar espaços de educação permanente em saúde, além de favorecerem à desconstrução da visão hegemônica de que a gestão deve ser centralizada. Mas a professora da UEL fez questão de esclarecer que a regulação, o matriciamento e os protocolos são ferramentas de tecnologias do processo de cuidado. Nas palavras dela, são “só ferramentas construídas durante a ativação de conversas, que não tiram a centralidade dos sujeitos”.
A professora Margareth contribuiu para a explanação de Rossana ao defender a necessidade de radicalizar a democratização do acesso à saúde, dando espaço de fala para aqueles que vivenciam o cotidiano do trabalho em saúde. Ela ainda criticou o modelo gerencial hegemônico, que pode ser desestabilizado se as ferramentas e dispositivos de gestão forem problematizados.
Além disso, a professora da UFRGS também pontuou que não se pode pensar no trabalho real baseado na prescrição, uma fez que o trabalho real implica encontros inusitados entre gestores, profissionais e usuários do SUS. “A lógica racionalista da produção de conhecimento tem desconsiderado o cotidiano vivo, o cotidiano do sujeito em ação”, afirmou Margareth.
Ao dar boas vindas aos participantes do Encontro Norte, o coordenador nacional da Rede Unida falou sobre diferentes iniciativas do Ministério da Saúde para mobilizar corações e mentes e mudar a subjetividade sobre a Saúde, dentre elas o Projeto VERSUS BRASIL, que levará cerca de cinco mil estudantes de graduação e pós-graduação para vivenciar a realidade do SUS.
Ao final de sua fala, Ferla comentou emocionado sobre a experiência de percorrer as cinco regiões do país para colher contribuições ao 10º Congresso Internacional da Rede Unida, que terá a Gestão como um dos seus cinco eixos temáticos e frisou a relevância tema: “Todos nós fazemos gestão no cotidiano do trabalho! E isso é uma posição política”.
Assista à entrevista com Rossana Baduy, coordenadora do eixo Gestão do 10º Congresso Internacional da Rede Unida.