"Quem são os anormais da hora?"
“Qualquer vida vale a pena ser vivida. E a vida tem que ser radicalmente defendida”. Com poucas palavras, ainda no início de sua conferência, o professor Emerson Merhy explicou porque foi recebido com aplausos pela plateia que participa do Encontro Regional Centro-Oeste, dia 03/11, na Universidade Católica Dom Bosco, em Campo Grande (MS).
Militante da Saúde, membro da Rede Unida e dono de uma personalidade admirável e destacada pela luta antimanicomial, Merhy movimentou o primeiro dia do Encontro ao falar sobre o cuidado em saúde. A etapa Centro-Oeste é a quarta já realizada pela Rede Unida, que já esteve no sul, sudeste e nordeste para colher contribuições para o seu 10º Congresso Internacional, confirmado para maio de 2012, na cidade do Rio de Janeiro. Nos dias 24, 25 e 26/11, os membros realizarão a última etapa, na região Norte (veja mais no site www.redeunida.org.br).
Com o tema “O agir como analisador do fazer. A diferença na repetição”, o professor (cujo currículo dispensa apresentação) prendeu a atenção de mais de 400 participantes ao criticar a intolerância da sociedade com os diferentes modos de viver, a sistemática lógica punitiva praticada pela mesma e, ainda, a repetição de uma ‘biopolítica da sociedade de controle’, que medicaliza a vida dos sujeitos e modela profissionais da saúde.
Sobre o assunto, Merhy chamou a atenção para ‘diferenças suportáveis’ e ‘diferenças insuportáveis’ de serem convividas. As disputas entre gêneros, por exemplo, seriam diferenças suportáveis, na medida em que seriam necessárias à manutenção da vida; enquanto alguns grupos (judeus, gays, ‘loucos’, entre tantos outros) seriam insuportáveis, em determinados contextos, e deveriam ser afastados a fim de legitimar uma certa ‘normalidade’ conveniente à maioria.
O professor ainda citou os autores Foucault e Deleuze para provocar a reflexão da plateia sobre quais parâmetros de normalidade e anormalidade estariam sendo praticados no cuidado em saúde, bem como sobre a lógica vigente em uma sociedade punitiva que pode induzir ao autocontrole dos sujeitos, interferindo nos seus desejos.
Para reforçar sua argumentação, Merhy falou sobre um tema polêmico: o uso de drogas. E foi taxativo ao assumir posição contrária à internação compulsória de usuários. Além disso, o professor ponderou sobre os limites de tal opção que pode se estender a outros quadros de saúde como a hipertensão, a diabetes e a tuberculose, quando o sujeito não segue a fala autorizada dos médicos e deixa de cumprir suas recomendações.
Ao assistir a conferência de Emerson Merhy, é impossível não questionar a prática do cuidado em saúde, baseada num tripé controle, ameaça e punição como fórmula ideal de alcançar a saúde de uma população. Se há saída? Para ele sim! Mas é preciso estabelecer conexões e relações dialógicas entre profissionais e usuários do SUS.
Assista à conferência do professor Emerson Merhy.